O anúncio de uma segunda temporada de Round 6, após o estrondoso sucesso da primeira, gerou, de fato, uma natural desconfiança. Nos últimos anos, temos aprendido que, quando uma série ou filme faz tanto sucesso, os estúdios rapidamente buscam continuar a história, mas o resultado quase sempre é algo que não conseguimos pedir, ou, ao menos, não esperávamos. Isso soa familiar: a pressa em agradar ao público gera, muitas vezes, produções apressadas e sem a alma do original.
A postura do criador Hwang Dong-hyuk, que admitiu inicialmente sua relutância em continuar a história, também parecia abrir espaço para temores de uma continuação sem grande propósito. Mas a grande surpresa dessa nova temporada foi justamente o contrário: Round 6 não só mantém a qualidade, como evolui e expande sua narrativa de forma inteligente e relevante, sem cair na tentação de ser uma mera repetição.
A trama segue o curso mais natural possível, com Gi-hun (Lee Jung-jae) investindo o prêmio para encontrar o Vendedor (Gong Yoo) e tentar desmontar a organização dos jogos, enquanto Jun-ho (Wi Ha-joon) luta para deixar o passado para trás, mas não consegue se afastar. O roteiro de Hwang acerta ao dar continuidade à história de maneira simples, sem se perder em complicações desnecessárias. A trama se estende a partir das consequências diretas da primeira temporada, sem recorrer ao velho truque de repetir a fórmula de sucesso.
O grande acerto da temporada é explorar a relação dos personagens já conhecidos de uma maneira mais profunda. O Vendedor, por exemplo, é mostrado de ângulos que aumentam nossa curiosidade, além de permitir que Gong Yoo experimente novas camadas de sua personagem, com uma performance que soa eletricamente imprevisível e cheia de tensão. Isso demonstra a evolução da série, que não teme brincar com o que já foi estabelecido, sem perder de vista a complexidade emocional dos envolvidos.
A estética de Round 6 também não decepciona. A fotografia de Lee Hyeong-deok e a montagem de Nam Na-young colaboram para uma energia frenética que embala os jogos, mas o verdadeiro coração da série não está apenas na ação, mas no que acontece fora dela. A violência, sempre presente, serve como pano de fundo para uma reflexão mais profunda sobre os personagens, suas escolhas e as motivações que os conduzem. O roteiro de Hwang nos entrega uma série que, ao mesmo tempo que mostra o sangue e a brutalidade dos jogos, também revela o que se passa nos bastidores emocionais de cada jogador.
Em seu melhor, Round 6 não se limita a ser uma história sobre morte e violência, mas sobre como os personagens lidam com os resquícios do trauma e como essas experiências moldam suas escolhas. Quando os soldados rosas surgem para eliminar os jogadores, o peso da violência é sentido, mas o que realmente importa ali é o triunfo ou a derrota pessoal, aquilo que os personagens não conseguem esquecer.